Elizabeth Alexandra
Mary, está beirando os noventa anos e com uma forma invejável. Interrompeu
ontem suas férias para inaugurar uma nova linha de trem na Escócia, onde passa
os verões. Segundo consta, preferia não ter ido, mas foi cumprir mais um de
seus deveres reais. Seus assessores insistiam numa aparição pública no dia em
que ela se tornaria a pessoa que ocupou o trono britânico por mais tempo nos
mais de mil anos da monarquia desta Ilha.
Coroação da Rainha
Elizabeth II
|
Vinte e três mil,
duzentos e vinte e seis dias se passaram desde que a rainha Elizabeth II foi
coroada. No Brasil, Getúlio Vargas era o presidente. Nos Estados Unidos, Truman
e aqui o primeiro-ministro Winston Churchill governava um país, que ainda
tentava ficar de pé depois da Segunda Guerra Mundial.
Os ingleses, eternos amantes
da estatística, puderam se esbaldar ontem: Elizabeth sobreviveu a sete papas,
doze primeiros-ministros, viu seu Império se desmantelar enquanto a população
desta ilha passava de 50 milhões, em 1952, para os 64.6 milhões de hoje. Quando
subiu ao trono, assassinos ainda eram enforcados neste país e os homossexuais
mandados para prisão.
'Boy meets Girl' - BBC |
“Leo, tenho uma coisa para te contar. Pode ser agora,
pode ser mais tarde, mas prefiro que seja agora: nasci com um pênis”. De acordo com a BBC, o diálogo acima é uma das
aberturas mais originais da história da tevê. Foi ao ar na semana passada na
série ‘Boy meets girl’ (menino (rapaz) encontra menina (moça)). ‘Boy meets girl’
nasceu de um concurso para escritores e conta a história de amor de Judy, uma transexual
e Leo. O mérito da BBC foi ter escalado para o papel principal Rebecca Root, uma
atriz transexual. A crítica tem descido a lenha. Diz que o tema não deveria ser
tratado como comédia e que ‘Boy meets girl’ tem clichês demais. Vi e gostei do
primeiro episódio, mas sou suspeita, porque gosto do humor inglês, que tem um
tom autodepreciativo.
Rainha Elizabeth II aos 89 anos |
O dia de ontem no
rádio, tevê, impressos e internet nesta Ilha foi como se a mídia tivesse pedido
‘altas’ para deixar o drama dos refugiados em segundo plano. A exaustão
psicológica de assistir e refletir sobre afogados e retirantes foi substituída pelos
assuntos da realeza. Como pouco se cria e muito se copia, ouvi e li em muitos
lugares a mesma reflexão: a Rainha Elizabeth Segunda é uma constante num mundo
em transformação.
Elizabeth viu muros caírem,
mapas se redesenharem, pessoas apavoradas com um cataclismo nuclear que viria durante
a guerra fria, pessoas ameaçadas pelo terrorismo. Gente morrendo de fome na África
e gente morrendo de obesidade em seu quintal. Viu seu Império minguar e seu
povo se enriquecer. Elizabeth também presenciou uma era de profundas mudanças
sociais, como as que a nova série da BBC exibe na televisão. Mas o que ela representa
para este povo não mudou em mais de seis décadas de reinado.
Todo ano, a Rainha participa da abertura do Parlamento http://mariaeduardajohnston.blogspot.co.uk/2015/03/pamonhices.html. Ela usa a mesma carruagem de sua tataravó, a Rainha Vitória, de quem acaba de roubar o recorde de longevidade no trono. Ao seu redor, prédios centenários convivem com os espigões de vidro, que brotam do chão. Como um país sobrevive em paz com mudanças sociais tão marcantes ao mesmo tempo em que reverencia sua Majestade?
Hoje ouvi no rádio um
anúncio do novo livro de Saatchi - o ex-marido agressivo da cozinheira Nigella Lawson e que além
de milionário, tem uma das melhores coleções particulares de arte moderna. O
livro chama-se 'Dead', Morto, e, segundo a propaganda, traz reflexões sobre a
mortalidade. Uma das frases do livro diz que: ‘tem gente que passa e deixa uma
marca, tem gente que deixa uma mancha”.
Elizabeth Segunda vai deixar uma
marca: a Rainha da constância.
👏🏻👏🏻 como sempre, muito legal o seu texto!
ResponderExcluirBjs💋💋
Obrigada, Clarinha. Um beijo.
ExcluirEita, eram palmas onde estão as interrogaçoes!!!
ResponderExcluirUma boa reflexão... Constância é o segredo que todos deveriam descobrir. Ela nos faz sábios, nos deixa corrigir os erros a patir da experiência e antes que tudo esteja perdido. Porque não seguir Os bons exemplos e vez de duvidar da experiência... Fica aí essa mensagem...
ResponderExcluirObrigada pelo comentario e a reflexao.
Excluir